sexta-feira, 27 de junho de 2008

Teoria ou prática?



Na sociedade atual é muito comum observar as definições sobre o teórico e o prático com sentidos opostos, ser teórico é muitas vezes tido como algo pejorativo ao passo que ser prático é uma qualidade valorada. Por outro lado, a prática não costuma se questionar - existe com fim em si mesma -, enquanto a teoria se questiona tanto que não chega ao fim. Afinal, prática ou teoria, qual é a melhor maneira para tratar o conhecimento? Tenho certeza que muitos já se indagaram sobre isso, eu inclusive. Essa questão se torna mais freqüente às vésperas da defesa da minha dissertação de mestrado, sobretudo quando me solicitam para elaborar algumas linhas sobre a situação. A teoria é um conhecimento especulativo, puramente racional. É a ação de olhar, examinar e especular, porém sem fazer. Já a prática é a realização de uma teoria concretamente. Nesse sentido, não existe teoria sem prática caso contrário se torna uma hipótese, algo que só existe na especulação. Ora, se a prática é a concretização do teórico então qual o motivo de alguém se interessar pela teoria? Especular, olhar, examinar não é coisa de gente preguiçosa? Realmente, deve ser. Só um preguiçoso gastaria seu tempo questionando aquilo que é feito em busca torná-lo mais simples, rápido e barato. Portanto, teoria e prática são partes de um mesmo fenômeno. A teoria sem prática vira preguiça, enquanto a prática fica mais cara sem teoria.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Ideologia, eu não quero uma para viver!



Cazuza estava errado ao pedir uma ideologia para viver, pois esta já existia e limitava a sua existência. No texto “O Terceiro Setor não existe!” elaborei uma conceitualização sobre a Natureza das Organizações e as classifiquei como organizações-estado, aquelas mantidas através da força e da imposição, e organizações-sociedade, aquelas mantidas pela vontade de liberdade. Porém, após uma reflexão mais complexa sobre o assunto foi possível verificar que ainda há um outro plano para a classificação das organizações. Ao falar que são essas as duas formas possíveis da sociedade se organizar fica implícito, por conseqüência, que todas as organizações são ideológicas. Ou seja, acabei impondo uma dicotomia entre liberdade e coerção no momento de cooptar o trabalho que manterá as organizações. De fato isso foi uma limitação conceitual - apesar que o Terceiro Setor continua não existindo -, pois ao se analisar as organizações que compõem uma sociedade ideológica - no caso a sociedade capitalista ideológica – é fácil observar que, em essência, todas se encaixarão nesse duo. Assim, aquela classificação continua valendo mas somente para analisar o plano contemporâneo, onde as organizações existem em função da ideologia que elas emanam. Neste momento é importante ressaltar que a ideologia influi na capacidade de inflexão sobre o que é bom ou mau, forte ou fraco, livre ou escravo. No entanto, enquanto houver uma força influente na percepção, esta não será racionalmente livre. Para tornar mais simples vou utilizar dois exemplos aparentemente opostos e que já analisei em outro texto: o Estado e o sistema operacional Linux (para representar a Sociedade). O Estado faz o uso da ideologia da segurança e que é mantida por uma estrutura de força. Para crescer garante uma pátria, a propriedade privada, enfim os direitos em geral e, desta forma, oferece a segurança aos cidadãos por meio da coação fisica. Para tanto, constitui os poderes, elabora as leis, institui a polícia e as forças armadas na direção de gerar a segurança que prometeu aos cidadãos. Desta forma, é mantido em função dos impostos – uma parcela do trabalho – que são cobrados pelas estruturas coercitivas. Apesar de usar a força para continuar a existir, é a ideologia em relação à segurança que garante sua perpetuação. Por outro lado, o sistema operacional Linux é mantido pela crença de seus contribuidores na liberdade e que é instituída pela licença autoral do software livre. O Linux cresce em função dos milhares de desenvolvedores que doam uma parcela do seu trabalho para manter o produto, uma vez que acreditam fazer parte de um projeto global, sem donos e livre. Aparentemente, não há nada de ruim nessa idéia, mas é só aparência, pois esta organização só existe em função da força exercida pela ideologia da liberdade na percebeção sobre o que é bom ou mau, uma coerção moral na racionalidade dos colaboradores. Tanto a ideologia do Estado - advinda da segurança - quanto a da Sociedade - advinda da libertação e observada no Linux – estabelecem uma relação de coerção que retira a real liberdade do indivíduo, as escolhas não são realizadas de forma racional, são influenciadas pela ideologia. Portanto, enquanto houver ideologia, necessariamente, existirá estrutura de força que limita a liberdade racional. Entretanto, ainda é preciso verificar que a ideologia age, ou seja, a idéia é agente e se impõe sobre um paciente, no caso o ser. As organizações e estruturas em geral sempre serão resultados de uma idéia e, portanto, emanarão ideologia que agirá ou não no ser. É o ser quem deve estar preparado para absorver as idéias sem ser paciente de suas forças.


Resumo da história: Fica claro o engano de Cazuza ao clamar por ideologia. O racional seria: “Ideologia, eu não quero uma para viver!” ou, um pouco além, enquanto houver ideologia não haverá poesia.