segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Onipotente maquinário

Lembro cada dia do ano
e reconto todos os meus passos:
Tudo aquilo que fiz
traz um pouco do que agora eu faço

Eu sigo essa cena acenando
assovios para ontem... a esperança para amanhã
ganhando ou perdendo vamos lutando
por mais que a luta - já sabemos - seja vã

Faltando o sentido do belo no presente
o romantismo se renova no futuro esperado
A batalha que traço, os passos que conto
movem as catracas do onipotente maquinário.

(mais um escrito com o Nevinho.)

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Sexo com o léxico

Palavras
nossas melhores amigas,
nossas amigas melhores
nossas melhores mulheres
nossas mulheres intrigas
nossas intrigas, inteiras brigas
e nossas voltas com as palavras

Pois falo à palavra fraca
a força do falo puro,
que fala em doces linhas
e goza na fina estrofe.


(Nevinho escreveu a primeira parte e deu o título.)

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Mulheres e apenas

Após a vida em Esparta
e da beleza de Simone
continuam tendo na mira
o velho e burro exemplo
das mulheres atenienses.

Falta o próprio sentido
no Espírito da liberdade
nas lições do sábio filósofo
apreendidas pelos poetas
e pelas mulheres parisienses.

Só há o sexo pensante
que faz o resto pensar
sendo o devir humano
o burro e velho exemplo
do comportamento natural.

Espartanas e parisienses
que invoquem suas belezas
invertam a natureza
com o poder da poesia,
do sublime, da alegria.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Cibercultura

A tela me consome
em protocolos distribuídos:
horizontais, abertos, difusos.

Suga a imundice
que povoa a minha mente:
adubada com esterco digital.

Toda organizada
em planícies de silício:
verticais, fechadas, conexas.

Podres fantasias
tornam belas mercadorias:
armazenadas, processadas, geridas.

Na cibercultura
asas batem em progresso:
atualizando erros do passado.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A'rtista

Ela veio e pensou por aquilo que viu,
tocou e sentiu que podia criar,
cheirou e comeu com mãos de pó,
suspirou e sorriu o deleite do cio,
sentou e moveu o viver em torpor,
moldou e talhou com a lima de aço,
gozou e gozou a conquista da obra,
parou e esperou a euforia da luta,
vendeu e trocou a experiência concreta,
murchou e cessou o sentido d’artista.

Absinteria

Vou lhe contar,
caro amigo,
o caso do absinto
das ruelas de Praga.

Há lá uma absinteria,
que nunca imaginaria,
apensar de ter aqui
cachaçarias e choperias.

Há várias absinterias,
mas vá lá, falo daquela
a mais bela das ruelas
com a bicicleta na porta
e a máquina verde,
que refresca
de ver girar o absinto.

Há ainda o calor,
natural de Praga,
que acalora e não cansa
que abafa e não passa.

O copo é transparente
de plástico firme
com gelo na metade,
pequenos cubos,
milimetricamente gelados.

Completa o absinto
meio doce,
meio amargo,
um suave aniz gelado.

Segue andando pelas ruas
e esbarrando nos teatros,
saboreando a tontura
do absinto em regaço.

Basta fechar os olhos,
agora como faço,
para sentir o absinto
e o andar em descompasso.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Astúcia




Autoridade vem da experiência,
como também da força.
Se experiência e força faltarem,
virá da astúcia: tal qual a raposa.

Astúcia é uma forma de sentir
para além do bem e do mal,
se transforma no devir
com a elevação da moral.

O dever se move de cima
passa a dever do lado,
o real se torna possível
e o devir contextualizado.

Mas sobra aquela falsa raposa,
onde falta a consciência mínima,
e que num passe de mágica
se converte em Macunaíma.

Essa poesia está no Sexta Poética, em: http://sextapoetica.com.br/wiki/index.php?title=Astúcia

Imagem disponível sob CC, em: http://farm3.static.flickr.com/2392/2142470132_a5610e595f_m.jpg